quinta-feira, 11 de setembro de 2008

11 DE SETEMBRO DE 1973

ÚLTIMO DISCURSO PROFERIDO PELO PRESIDENTE CHILENO SALVADOR ALLENDE
DIA 11 DE SETEMBRO DE 1973
"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.
Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.
Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.
Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.
Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição."

fonte: site cartamaior

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O caso Dantas e a mídia alternativa



Semana passada, juristas de todo Brasil e os meios de comunicação ficaram em polvorosa com a Operação Satiagraha da Polícia Federal, que levou à prisão, dentre outros, o banqueiro Daniel Dantas.

Pouco conhecido do grande público – pois, excetuando alguns veículos, digamos, mais independentes (principalmente a revista Carta Capital), sua aparição na chamada “grande mídia” era restringida a notas que não iam nada além de descrevê-lo como um bem-sucedido empresário – Daniel Dantas é uma figura emblemática da onda neoliberalista que tomou conta do país no final do século passado e início deste. Suas relações com o mundo da política tiveram inicio nas mãos do falecido Antonio Carlos Magalhães, posteriormente foi cogitado a ser ministro de Estado no governo Collor, gozou de amplo acesso no PSDB e no governo FHC (onde teria enriquecido com o processo de privatização do Sistema Telebrás, em 1998) e, conforme agora veio à tona, aproximou-se de influentes políticos ligados ao PT.

Poucas horas após sua prisão, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes, determinou sua soltura, concedendo liminar em um pedido de habeas corpus que vinha se arrastando desde abril deste ano, que o banqueiro impetrou em virtude de uma matéria publicada à época pela Folha de São Paulo. No mesmo dia em que foi solto (quinta, 10 de julho), a Justiça Federal de São Paulo decretou novamente sua prisão preventiva, agora sob acusação de tentativa de suborno a um delegado da Polícia Federal. No dia seguinte, nova decisão da nossa Suprema Corte mandando libertá-lo.

Logicamente, o caso tem muito mais meandros do que foi dito aqui neste espaço. Mas de tudo o que foi falado, analisado e repercutido na mídia em geral, o que posso destacar é, de um lado, o fato de que nosso Brasil não consegue se libertar de velhas práticas e, por outro lado, o “baile” que a chamada “mídia conservadora” levou nesse episódio dos sites e blogs do internet.

O primeiro aspecto é evidente por si só. Deixo totalmente de lado a questão da legalidade ou não da prisão. A discussão é outra. Quem neste país, algum dia, teve dois pedidos analisados e concedidos pelo STF em 48 horas? Ninguém! E não pensem vocês que estamos ingressando numa nova era de Justiça para todos. O nosso sistema judiciário não é e nunca foi acessível a todos. Ele é preconceituoso e excludente. Esse caso apenas demonstra que as grandes alamedas da nossa Justiça só estão totalmente abertas para alguns poucos.

O outro aspecto, no entanto, é algo que considero alentador. A chamada mídia alternativa – blogs e sites da internet – cobriu o caso de forma muito superior e eficiente do que os grandes veículos (leia-se: Globo, Folha, Estadão e Veja). Repito, foi um baile. Quem quisesse ter informações seguras sobre o que estava acontecendo tinha de se socorrer dos blogs e sites – como os do Luis Nassif, Eduardo Guimarães, Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Bob Fernandes, entre muitos outros – já que a mídia convencional desvirtuou toda a discussão à questões de menor importância, como o abuso no uso de algemas e alarde que a Polícia Federal faz com suas operações

Isso é curioso, pois a mídia alternativa sempre repercutia o que se noticiava nos grandes veículos da mídia convencional. Esse caso criou um paralelo. As notícias eram divulgadas pelos sites e blogs e discutidas à margem do que noticiavam os grandes jornais e as emissoras de televisão.

Há muito que os interesses econômicos dos grandes monopólios da informação tomaram conta de nosso noticiário e deixou-se de lado o comprometimento de noticiar fatos de forma imparcial. Tomara que novos tempos estejam chegando.....

domingo, 8 de junho de 2008

VOTO LATINO

Antecipo que apesar do título não há nada relacionado à eleição nos Estados Unidos ou quaisquer outras pretensões eleitoreiras nesta singela postagem.

“Voto latino” é uma canção da banda mexicana Molotov que prega a igualdade dos povos em confronto ao ódio racista contra nós, latinos. Pois é, alem de brasileiros, somos latino-americanos e temos muito em comum com nossos vizinhos.
E, mesmo morando ao lado de povos com culturas tão ricas como a nossa, pouco sabemos sobre eles. Ouso dizer que pouco nos interessamos. E isso nos priva de conhecer, por exemplo na música, artistas de primeira linha, como Soda Estéreo, Los Prisioneros, Mercedez Sosa, Silvio Rodrigues, entre milhares de outros. Na literatura, há opções para todos os gostos: Garcia Marques, Asturias, Isabel Allende, Galeano, Vargas Llosa, Borges, Neruda.... Temos a chilena Gabriela Mistral, primeira mulher a receber o prêmio Nobel de literatura.
Talvez isso ocorra pelas nossas gigantes fronteiras ou o grande culpado seja o idioma, mas seria muito proveitoso conhecer-nos e desfrutarmos dos benefícios que uma grande "união latino-americana" perante o mundo. Fomos colonizados de forma catastrófica. Passamos o período da guerra fria sob o domínio dos EUA, que se empenhou em transformar governos democraticamente eleitos em ditaduras. Somos assolados por crises que deixaram a maioria de nós miseráveis. E estamos enfrentando uma possível dominação midiática.
Não se trata de propagar o ódio contra os “gringos”, mas apenas reivindicar um tratamento digno à nossa condição de seres humanos. Não há cidadãos de segunda classe neste planeta. Não somos apenas um conglomerado de republiquetas de banana. A América Latina vive o seu melhor momento e a ocasião é perfeita para a nossa verdadeira independência. Lógico que precisamos do mundo, mas o mundo também precisa de nós. O Brasil certamente tem posição de vanguarda nessa caminhada, mas devemos conhecer e respeitar nossos parceiros.

Rodrigo E. Fierro